Quando falamos sobre trekking, devemos lembrar que esse é um esporte que possui inúmeras variáveis que não podemos controlar mas podemos nos preparar. Animais, solos irregulares, alimentação restrita e, principalmente, as mudanças de temperatura. Dessa forma, pensando nas suas necessidades para realizar um trekking encarando baixas temperaturas, trouxemos alguns pontos importantes sobre o Sistema de Camadas. Assim, você será capaz de se preparar para as baixas temperaturas de forma segura e confortável.
Sistema de Camadas: breve histórico
A utilização de vestimentas em camada é uma técnica extremamente relevante para encarar os desafios trazidos pela prática de esportes ao ar livre, principalmente nas trilhas de alta montanha. Isso acontece, pois em locais de baixa temperatura, as roupas possuem, ao mesmo tempo, o papel de transferir umidade, fornecer calor e proteger o praticante do vento e da chuva.
A utilização de peças de roupa por cima de outras é algo utilizado há muitos anos não só no esporte, como também nos serviços militares. Essa técnica tem como objetivo garantir que as necessidades de manutenção corporal sejam garantidas, através de diferentes peças de roupas que possuem funções distintas.
Agora, você deve estar se perguntando: e por quê não desenvolver uma tecnologia têxtil capaz de suprir essas necessidades?
Isso acontece, pois a rentabilidade desse tipo de tecido seria muito baixa, visto que para desenvolver algo assim, seria necessário subir de forma desenfreada o valor dos produtos construídos com este tecido.
Dessa forma, o sistema de camadas serviu não só para conferir maior conforto e segurança ao atleta, como também é responsável por tornar a atividade do trekking mais acessível financeiramente.
Além disso, apesar da luta por reivindicação das grandes marcas, este sistema já estava sendo aplicado muito tempo antes de serem lançados por estas marcas. Isso acontece, pois durante anos o sistema de camadas foi utilizado como fardamento dos exércitos americanos.
A popularização deste sistema inclusive, veio com a proliferação desta forma de se vestir entre os civis, que foram aderindo a técnica durante o dia a dia, inclusive em países onde a temperatura já é mais baixa em grande parte do ano.
Como o sistema de camadas funciona?
Como dito anteriormente, o sistema de camadas consiste em um método de sobreposição de peças de roupa que tem como objetivo garantir a manutenção da integridade física de um praticante de trekking no momento em que ele está realizando as suas caminhadas.
Apesar da grande quantidade de vestimentas, o sistema de camadas não está baseado apenas na preservação de calor. Na verdade, cada camada possui uma função específica, que contribui para uma melhor movimentação dos membros, a alta capacidade de transpiração e é claro, a conservação da temperatura corporal.
Entenda um pouco mais sobre os componentes desse sistema de camadas:
Primeira camada, base Layer ou camada base
Essa é a camada que entrará em contato direto com o corpo. Em teoria, qualquer roupa que fosse vestida primeiro, como uma blusa de algodão, poderia ser chamada de base layer.
Entretanto, devemos lembrá-lo que roupas de tecido de algodão não são recomendadas para a prática de esportes, já que elas tendem a absorver o suor e outros líquidos, prejudicando a transpiração.
Como o principal objetivo da primeira camada desse sistema é justamente dissipar o suor e impedir a retenção de água no tecido, gerando uma secagem mais rápida das roupas, a blusa de algodão não pode ser utilizada como base layer.
Dessa forma, toda vestimenta que está destinada a compor essa camada que também podemos chamar de “segunda pele” deve ser composto por um material/tecnologia que permita um escoamento eficiente dos líquidos/suor.
É por este motivo que as camisas Dry-Fit se tornaram as peças prediletas dos atletas de trekking de todo o mundo. Esse tipo de tecido permite uma maior leveza e flexibilidade dos braços por conta de sua estrutura altamente maleável.
Camada térmica – mid layer: fleece
Assim como o próprio nome sugere, a segunda camada do sistema é a responsável por garantir que a temperatura corporal do atleta seja mantida mesmo em climas frios, ao realizar a sua trajetória de trekking.
As caminhadas são formas de nos conectar à natureza, por isso, não devemos deixar de partir para este tipo de passeio só por causa de chuvas ou frio. Existem equipamentos específicos para nos auxiliar nesses trajetos, trazendo segurança e conforto para o trekking.
Este é o caso dos fleeces. O tecido fleece tem como origem a década de 80 através da empresa americana Polartec. Em sua composição existem estruturas que atuam como isolantes térmicos impedindo a perda de calor para o ambiente externo.
Ele pode ser encontrado tanto como camisa, quanto como jaquetas e outras peças de vestimenta. É importante ressaltar ainda que o fleece trata-se de um tecido bastante compressível, logo as peças construídas com este tecido tendem a ocupar pouco espaço na sua mochila de viagem.
Além disso, o fleece é um tipo de tecido que pode ser avaliado e classificado de acordo com a sua gramatura. Em frios rigorosos, o ideal é optar por gramaturas acima de 300. Caso se trate de temperaturas mais amenas e não tão críticas, uma gramatura abaixo de 150 é o suficiente.
Lembre-se ainda que quanto mais grosso o tecido maior o impacto na flexibilidade dos membros. Portanto, jamais escolha a opção mais grossa do mercado sem verificar como será a sua trilha.
Isso acontece, pois mesmo em climas mais frios, a utilização errada de um fleece com alta gramatura pode deixar a viagem muito mais desconfortável, prejudicando assim o seu objetivo final, que é se conectar com a natureza.
Camada Externa: Outer Layer
A camada outer layer é a principal responsável do sistema por proteger o nosso corpo de eventos como chuva e neve, já que, ela literalmente é a camada mais externa de todo o conjunto.
Sua tecnologia impermeável impede que a água da chuva entre em contato com o tecido mais grosso do fleece, que não possui a capacidade de secar com tanta facilidade como o tecido Dry.
Além disso, devemos levar em consideração também que mesmo com sua característica impermeável, a camada mais externa do sistema deve também ser respirável, para que assim os vapores de água derivados do suor consigam sair evitando o mau cheiro e o desconforto ao realizar o trekking.
Existem diversos modelos de jaquetas disponíveis no mercado, que variam tanto em relação ao grau de impermeabilidade, quanto em relação ao design e a própria estrutura de confecção da peça.
Com relação ao ponto de impermeabilidade, o ideal é que você escolha uma peça versátil que atende a diversos tipos de trilha. Dessa forma, uma jaqueta com 2000mm de coluna d’água é o suficiente para que você enfrente chuvas regulares durante a sua aventura.
Já quando nos referimos ao modelo estrutural da roupa, recomendamos por jaquetas que possuam zíper nas axilas, facilitando assim o processo de movimentação dos braços e de dissipação do suor.
Além disso, procure um modelo que se adeque melhor ao seu corpo e às suas necessidades, visto que o objetivo do sistema de camadas é justamente promover segurança e conforto por meios mais acessíveis.
Modelos 3 em 1
Atualmente já existem jaquetas que atuam como um modelo integrado da segunda e terceira camada através da adição de uma espuma, que são chamados de modelos 3 em 1. Além disso, outros modelos também já possuem os três tecidos unidos como um em costura.
A vantagem dessas peças é que elas ocupam apenas um espaço. Entretanto, como nem tudo são flores, existe a desvantagem de justamente não ter como retirar apenas um componente do sistema caso fosse necessário.
Essas peças são mais difíceis de serem encontradas em lojas físicas e não se tratam de novas tecnologias de tecido, apenas a junção dos diferentes componentes como um só.
Atenção para as extremidades: mãos, pés e cabeça
Botas
Um dos grandes problemas dos trekkers de primeira viagem é a falta de preocupação com os pés. A princípio, os aventureiros não entendem que a bota é um importante equipamento para a realização de caminhadas.
É por isso que muitos deles acabam partindo para a aventura utilizando tênis de academia ou outros tipos de sapatos que são incapazes de atender às demandas de um trajeto complexo como os montanhosos ou de outros cenários com climas mais frios, como: “vou usar aquele tênis velho que está parado” e é um grande erro pois o praticante de trekking se divide em dois: o pé e o resto! Se machucar o pé, e dependendo da gravidade, acabou o trekking.
Portanto, é sempre importante ressaltar que o calçado ideal para a realização do trekking são as botas. Elas serão a sua principal proteção externa contra o frio, galhos cortantes e animais peçonhentos.
Existem inúmeros modelos disponíveis no mercado, mas como já citamos em um dos nossos artigos, a melhor opção de bota para trekking é o modelo laceável. Este tipo de calçado promove conforto e impermeabilidade, além de apresentar uma estrutura maleável e forte, permitindo que o trajeto seja feito em segurança.
Isso faz toda a diferença, já que você estará preparado para enfrentar todos os desafios encontrados no caminho, como os solos irregulares, a caminhada em locais de difícil acesso e a travessia de cenários remotos.
Ah e não se esqueça: A bota é um acessório muito pessoal, portanto o ideal seria que você fosse até a loja experimentar e avaliar se a bota que você escolheu seria realmente a melhor escolha para a realidade do seu corpo.
Meias
Outro equipamento importantíssimo para as caminhadas realizadas em baixas temperaturas são as meias. Principalmente quando o assunto são botas novas, as meias fazem o papel de garantir a primeira camada de proteção dos pés contra calosidades e a umidade.
As meias são objetos considerados como vestimenta e equipamento ao mesmo tempo, isso acontece pois hoje, uma meia pode ter diversas tecnologias diferentes, e elas irão moldar o nosso conforto já que, assim como a camada base do tronco, nos pés também existe a necessidade de se desenvolver.
O ideal é que no momento do trekking sejam utilizadas meias de compressão, que ajudam a garantir uma melhor circulação sanguínea nos pés. Mas caso você não queira realizar este investimento, também podem ser utilizadas meias grossas como as de lã sintética ou também há meias específicas para trekking que são as antiatritos.
Assim como as camisas de Dry-Fit, as meias não podem ser de algodão, já que ele absorve rapidamente água e o suor, prendendo nas suas tramas. Dessa forma, você poderá trazer inúmeras complicações aos seus pés que resultarão em tratamentos caros, como o aparecimento de bolhas, frieiras, micose e outros desconfortos nos pés.
Luvas
As luvas assim como as meias também precisam ser vistas como um componente de proteção que entra em contato direto com as mãos. Além disso, caso você faça a sua trilha de trekking em regiões com neve ou chuva, você precisará aquecer essa região para não gerar sérios problemas com as suas mãos.
Outro ponto importante é que são as luvas que impedem a ocorrência de cortes nas mãos por causa de galhos e outros obstáculos encontrados no caminho e também caso você utilize bastão, evitará os calos.
Gorros
Os gorros também são peças importantes que fazem muito sucesso nas temporadas de inverno. Eles têm a função de aquecer as orelhas e fazer uma barreira contra os raios de sol no couro cabeludo.
Um equívoco cometido por muitos trekkers é pensar que apenas por conta do clima frio, os raios de sol não irão machucar o couro cabeludo. Entretanto, mesmo com temperaturas mais baixas, o sol possui a capacidade de queimar as regiões da cabeça e provocar ainda um problema de desidratação e desconforto na trilha.
Em situações de clima mais quente como o verão, o gorro é substituído pelo chapéu ou boné que trazem maior leveza do que esta peça durantes os trekkings de primavera e verão.
Se aventurar na chuva não parece ser uma tarefa fácil, não é mesmo? Mas, não se preocupe, um bom planejamento, atrelado a organização e a escolha certa de materiais conseguem deixar tudo mais simples.
Dessa forma, esperamos que este conteúdo tenha contribuído para que você consiga se planejar para o seu próximo trekking por meio do sistema de camadas.
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